ESCAMBO POPULAR

O Movimento Escambo de Teatro Livre de Rua é um movimento de irradiação cultural que reúne, atualmente, além de grupos de teatro de rua, poetas, e artistas populares dos Estados do Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco, Açailândia no Maranhão, Uruará no Pará, Samambaia no Distrito Federal, Campinas em São Paulo, Rio de Janeiro, Canoas no Rio Grande do Sul e Rosário na Argentina, com o intuito de socializar suas experiências artísticas, culturais, políticas e comunitárias.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

ESCAMBO EM TRAVESSIA - ARACAJÚ-SE

Aracajú-SE, foi a primeira parada do Escambo em Travessia com uma programação definida junto com militantes da ANEPS-SE. Três espetáculos no mesmo dia. O primeiro foi "O Casaco de Urdemales" as 08 da manhã no Mercado Público, que ainda tava enfeitado dos festejos juninos, grande tradição Nordestina e sucesso em Aracajú-SE.
Fica nossos agradecimentos a todos os que colaboraram em Sergipe com o ESCAMBO EM TRAVESSIA
Nossa chegada a esse espaço cultural maravilhoso...
Alegria do Vitor Miranda por chegar em Aracajú-SE
Em seguida, Vitor, embaixo do Jaraguar, brincando com arte popular
Jardeu Amorim, em pleno Mercado de Aracajú, brincando e brincando...
O atrevimento da Bia, personagem criada e interpretada por Jardeu Amorim, com o público do Mercado Público de Aracajú-SE
Gracinha, vivido por Berg Bezerra, não fica atrás. Ataca o experiente senhor que assiste O Casaco de Urdemales

Junio Santos chamando o povo
Uma visão da Roda a ser utilizada no Mercado Público de Aracajú
Diego Tavares interpretando o Mateus
Jardeu Amorim
O Falso Fradinho com Berg Bezerra
RODADA DE CHAPEU - DIEGO EM AÇÃO -
RODADA DE CHAPEU -LEO ALVES EM AÇÃO -
ENTRADA DO ZÉ PAVÃO

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

ENTREVISTA DE JÚNIO SANTOS PARA O JORNAL MOSSOROENSE


O ator, diretor e agitador cultural Junio Santos foi entrevistado pelo jornal O Mossoroense, abordando o Movimento Escambo Livre de Rua que neste ano marca 20 anos deste movimento cultural. Junior Santos fala do processo de construção e das articulações, de engajamento e de manutenção neste tempo. Fala dos momentos do Escambo em Icapuí e dos grupos de teatro da cidade, em especial do Grupo Flor do Sol. Veja a entrevista realizada pela jornalista Larissa Newton na edição de hoje.


JUNIO SANTOS


Na última quinta-feira, diversos grupos articuladores do Movimento Escambo Livre de Rua se reuniram em Janduís para discutirem alguns detalhes do XXX Escambo, que ocorrerá de 28 de abril a 1º de maio naquela cidade. A data também vai marcar os 20 anos de existência deste movimento cultural independente. O Escambo são encontros de diversos grupos de artistas de várias cidades, estados e até de outros países, que se reúnem para compartilharem e trocarem suas experiências culturais. Um dos articuladores é Junio Santos, que participa do Escambo desde a sua fundação. Quando indagado sobre a sua profissão, Junio a define como brincante popular. Nesta entrevista, ele fala da magnitude deste movimento livre e democrático. Ou talvez anárquico seja uma definição melhor?

por: Larissa Newton

Leia abaixo a entrevista completa:


O Mossoroense: Falando no Escambo Livre de Rua, você está desde o início? O movimento está prestes a completar 20 anos.

Junio Santos: Na verdade, ele existe há mais tempo, mas com esse nome existe desde 1991. Então ele está fazendo 20 anos. Éramos um grupo de seis pessoas. O Alegria Alegria, de Natal, e que existe até hoje, e havia uma possibilidade de ser feito o Festival Nacional de Teatro de Rua. E assim começamos a fazer alguns questionamentos. Como fazer o festival nacional de teatro de rua se a gente não sabe quem faz teatro de rua no Estado? Desta forma nós começamos a ver que já existiam alguns grupos. Não era só o Alegria Alegria. Havia o grupo Baraúnas, em Lagoa Nova. Estava surgindo o grupo Terra, em Mossoró, inclusive o fundador foi o Aécio (Cândido) hoje vice-reitor da Uern. O grupo Terra tinha uma atuação que acontecia na rua e no palco. E do grupo Terra acabou surgindo o Arruaça e o Escarcéu, com o Nonato e o Augusto, que eram as duas figuras iniciais. Depois veio a Lenilda, a Marta....bom, nessa época nós vimos que havia grupos de teatro que faziam teatro de rua, espalhados por Natal e pelo interior. Então, antes de fazer o festival nacional, saímos pelo interior para fazermos uma pesquisa por conta própria e vimos que estava surgindo um movimento muito forte na cidade de Janduís. Era um movimento de arte popular e de cidadania no meio da seca, das crianças morrendo de fome, e estas crianças estavam recitando Brecht, Carlos Drummond de Andrade, tudo em cima das pedras. Antes tinha chegado lá um paraibando, que estudava no Rio de Janeiro, chamado Raí Lima. Ele é um dos fundadores do Escambo. O Raí estava fazendo um estágio da formação dele, que era em Literatura, e o que ele escolheu como estágio foi desenvolver um trabalho no interior, no sertão da Paraíba ou do RN. E este trabalho acabou fazendo a nossa cabeça também, porque vimos que era uma coisa muito forte. E em 1988 eu vim pela primeira vez a Janduís para dirigir um espetáculo. Chamava-se a Festa do Rei, com o grupo de Currais Novos. E a gente começou a ver que Janduís seria o melhor local para se fazer o encontro de artistas de rua do Rio Grande do Norte.

OM: Por que Janduís?

JS: Escolhemos Janduís porque o povo estava passando fome. Passando por um descaso do governo federal e estadual também. Havia uma seca muito forte, havia uma pistolagem dominante e havia arte. Onde há o caos, a arte brota com uma facilidade muito grande. E a própria forma de viver das pessoas é fazer arte onde há morte. A própria vida brota onde há morte. E resolvemos fazer em Janduís. E este Escambo tinha a participação do grupo Terra de Mossoró, do Alegria-alegria de Natal, dois grupos de Januís, o grupo Baraúna de Lagoa Nova, o grupo de Campo Grande e vinha uma delegação da cidade de Icapuí (CE) que estava começando a desenvolver um trabalho de cultura e queria saber o que era esse tal de teatro de rua. E aí nós fomos discutir como íamos chamar isso. Aí o Climário sugeriu a palavra escambo. Já que estávamos levando comida, outro levando rede, outro colchão, e a gente ia trocar com a comunidade para poder fazer esse teatro pra eles, então era escambo, uma troca onde ninguém devolve nada a ninguém. Mas troca pela necessidade. Um carro tem o mesmo preço de uma cabeça de alho, dependendo da necessidade. Mas nós imaginávamos que esse seria só um, não iria ter outro. Até porque era uma coisa efervescente. Na cidade ninguém mais saía à noite com medo da pistolagem. Pessoas atiravam pra cima, depois das dez horas da noite passavam em carros para matar alguém em outro canto da cidade, e os cidadãos começaram a sair para as ruas por causa da arte. Os espetáculos iam até as 10h30, 11h da noite. Inclusive teve um chamado "João de Deus e o Diabo", onde abrimos uma peleja dos artistas contra o público. Aí como o público não saía quando o espetáculo terminava, a gente resolveu que não terminava o espetáculo nunca. E ficávamos inventando, inventando, voltando cena, quando deu duas horas de espetáculo, um ator virou pra mim e disse: Junio, eu não aguento mais. O povo não vai embora! E a gente se rendeu ao povo de Janduís. Quando dava sete horas, o povo já ficava pelas esquinas esperando o cortejo passar, e o cortejo virou um carnaval. E a noite a gente sentava numa creche que era onde estava toda a hospedagem e a alimentação, e rolava conversa sobre a gente se encontrar de novo. E quando foi no último dia, o grupo Folia, de Carnaúba dos Dantas, disse que tinha lá o mesmo problema: fazemos arte, temos três grupos e nenhum apoio da prefeitura. Seria legal se vocês fossem lá para nos fortalecer. Então a gente viu que era muito legal ir lá para fortalecê-los. É como você dizer: olha, fazemos teatro, mas não estamos sós. De várias partes do Estado, inclusive do Ceará, tem gente que nos apoia. E aí terminamos o escambo em Janduís num dia 1º de maio de 1991, e já fizemos outro no dia 18 de agosto em Carnaúba dos Dantas. Saímos com sete grupos em Janduís e chegamos em Carnaúba com 20.

OM: E qual foi o resultado de Janduís?

JS: Tiramos muitos manifestos pela arte. A gente pensa que a arte só vai ficar bem e todo mundo vai produzir quando todos tiverem direito a viver legal. A ter uma casa, saúde e lazer. Poder ter férias, poder passear com a família e poder consumir arte de uma forma tranquila. Então a gente fez vários manifestos, saímos em caminhada à prefeitura, ao governador. Depois, em Carnaúba dos Dantas surgiu ainda o Escambarte, onde os artistas vão a um bar na cidade, já previamente acertado, e depois passam o chapéu para ajudar a custear os grupos durante o próprio evento. E foi uma mobilização muito grande da comunidade. Fizemos o espetáculo "A saga da mina " porque lá o povo vivia de minério, e diziam que o minério tinha acabado e a culpa era de Deus. Na verdade, eram as grandes empresas querendo comprar os minérios, e só precisavam de uma máquina que tirasse mais lá embaixo. Então nós montamos um espetáculo que mobilizou banda de música, clube do idoso, crianças locais. A companhia elétrica teve que desligar as luzes da rua porque a cidade todinha foi iluminada com tochas. Foi uma grande produção, com a banda tocando, e foi um espetáculo que marcou aquela cidade. Quando foi no último dia e a gente partiu para as conversas de avaliação, que a gente chama a roda de despedida, o pessoal de Icapuí falou que lá tinha tudo: alimentação, hospedagem, que a Prefeitura de Icapuí estava querendo investir em arte e criar um departamento de cultura onde teatro seria o carro-chefe. E em janeiro de 1992 estávamos lá. E de uma média de 150 pessoas passamos para 600. Eram mais de 30 grupos, com quatro espetáculos por noite, isso em janeiro de 92. E a partir daí o Escambo foi crescendo, tinha gente do Maranhão, do Pará.

OM: Esta é a primeira vez que você fala de apoio oficial?

JS: Na verdade, a gente sempre fez uma troca com as prefeituras. Era o espaço em troca de espetáculos. A prefeitura em alguns casos garantia a alimentação. Mesmo assim os alimentos perecíveis os grupos sempre levavam. Mas a partir de Icapuí, o Escambo passou a ter uma ressonância muito grande e passamos a receber grupos de Uruará no Pará, Acailândia de Imperatiz, de Catolé do Rocha na Paraíba. Hoje a gente tem mais escambos no RN que no Ceará.

OM: Já estamos com quase 20 anos de Escambo. Conte uma história fantástica!

JS: Tem uma que é inesquecível. Foi na cidade de Santa Cruz. Estávamos na época do sexto ou sétimo ano, não lembro bem, estávamos numa conversa com o Unicef. Estávamos desenvolvendo uma ação de educação. Era o Escambo e a Educação de Qualidade, que tinha por objetivo incentivar as crianças a se matricularem nas escolas públicas. Aí a gente ia às escolas públicas nos finas de semana, deixava tudo aberto, e levava as crianças para dentro para brincar. Então o Unicef disse que a gente podia fazer isso de rua em rua. Então fomos fazer o Escambo. Só que na verdade era uma Semana Santa, e a igreja foi contra e o juiz também era contra. A prefeitura nem se fala, e a delegacia também. E tínhamos escolhido um bairro que eles chamavam de favela, e que se chamava Paraíso. E quando chegamos lá, éramos cerca de 500 pessoas, e íamos ficar nesses Caics que são muito grandes. Quando chegamos lá só tínhamos conseguido duas coisas para comer: alguns pacotes de macarrão e algumas latas de almôndega que tinham sobrado da merenda escolar. E as pessoas - 600 pessoas - começaram a chegar para jantar e só tinha isso. Alguns começaram a chorar, outras entraram em desespero, e já iam telefonar para avisar aos outros que não viessem, pois não tinha comida, aí nós fomos para uma grande conversa no refeitório. O Raí colocou que naquele momento, no nosso país, mais de 40 milhões de pessoas também estavam sem ter o que comer, mas que essas pessoas não tinham a felicidade de ter conseguido este espaço para fazer arte. Por isso aprendiam a viver e a lutar pela vida. E então, o negócio era logo pela manhã a gente sair pela rua logo cedinho, fazer teatro para conseguir comida. E assim, no outro dia nós conseguimos um caminhão com uma pessoa da cidade, e as seis horas da manhã já tinha grupo pintado, arrumado, e fomos de caminhão pelas ruas de Santa Cruz, pelas feiras, e daqui a pouco chega um cara com uma máquina de café daquelas que bota em congresso, e disse: ó, a padaria mandou isso aqui, e mandou dizer que vai entregar 600 pães de manhã e 600 de tarde. E começou a chegar comida, e mais comida, e os cozinheiros começaram a se animar, e pra completar, na sexta-feira santa comemos peixe e tomamos vinho na hora do almoço. E no domingo pegamos toda a comida que sobrou, e que foi muita - aliás foi o escambo que teve mais comida - e distribuímos numa comunidade com as crianças que estavam passando fome, e que comiam com a gente no Escambo. Então isso é uma coisa que marca muito neste movimento: resistência e persistência.

OM: O Escambo vem funcionando por quase 20 anos praticamente às próprias custas. Se houvesse recursos, o Escambo seria o que é?

JS: Nós tivemos por alguns anos. 2006, 2007 e 2008, foram as únicas vezes em que conseguimos recursos. E estes recursos não eram muita coisa, mas foram através de Edital do BNB. Em 2006, conseguimos R$ 7 mil, para fazer o Escambo na Redonda, em Icapuí. A gente conseguiu mais R$ 5 mil com a Petrobras, e assim deu para trazer o Amir Hadad do Rio, que é o mais antigo mestre de teatro de rua do Brasil. Pagamos o transporte dos ônibus dos grupos e a alimentação. Os grupos não entraram com nenhum tostão. Em 2007 fizemos em Carnaúba dos Dantas, e conseguimos R$ 11 mil. Trocamos com algumas pessoas da cidade o café da manhã, a prefeitura foi responsável pela água, e o dinheiro cobriu o transporte e a alimentação. E fizemos em Umarizal, em 2008, o XXIII Escambo que foi o maior escambo até hoje, com mais de 400 pessoas alojadas em duas escolas da cidade. Foi um escambo em que contamos com gente de todo o país. E aí a gente sabia que se fosse de edital em edital a gente conseguia de novo. Mas aí a gente achou que ia ficar viciado, e o dia em que não tivesse não ia fazer Escambo. Discutimos isso tudo, porque não se pode ficar só dependendo do governo, ficar um grupo que só depende de recursos públicos. E a parceria com a comunidade? Mas agora para o Escambo dos 20 anos, fizemos projeto, porque a gente quer trazer companheiros de São Paulo, do Rio de Janeiro. Tem gente que quer vir com os seus espetáculos pra cá, e tem vontade de ver e viver o escambo como é. Mas a gente não tem dinheiro para ajudá-los a virem. Há pessoas que passaram pelo escambo e hoje estão na Argentina, no Pará... e a gente quer trazer todo mundo pra cá. E também tem outros grupos. O Movimento Nacional de Teatro de Rua hoje é uma rede muito forte. Somos mais de 4 mil grupos de teatro de rua nesta rede. O escambo tem sido o espelho para esta rede, apesar de que nesta rede tem gente que só discute edital e cargos públicos.

OM: E como é a relação do Escambo com a mídia?

JS: A gente não tem tido uma relação forte com a mídia. No final das contas é nossa culpa (risos). Mas temos histórias em que a mídia vai atrás. O movimento de Janduís é uma prova disso. O grupo de teatro de janduiense em dois anos captou mais recursos do que a Prefeitura gasta com cultura. Então é um grupo que consegue se distribuir pela região dando cursos e promovendo espetáculos. E as pessoas cresceram, estão ocupando seus espaços dentro da sociedade local. Eram pessoas que moravam em casinhas de taipa e hoje estão na Câmara Municipal. Outro exemplo é o grupo Flor do Sol de Redonda (CE). Lá só tinha uma pessoa formada na Redonda, que era um professor de matemática. Hoje na Redonda está quase todo mundo formado, todo mundo estudando. Todos estimulados pela própria cultura. Hoje, as crianças quando nascem, os pais já querem que elas entrem no Flor do Sol, por que assim os meninos não entram no crack, não vão roubar. Os meninos estudam, viajam, têm bagagem. Isso é um exemplo. Os nossos grupos todos vêm da zona rural, e tem uma história de vida muito forte. As grandes histórias de sucesso no Escambo são de pessoas que superaram as dificuldades, ocuparam seus espaços na comunidade. O Escambo alimenta a cidadania. O sucesso é que o Escambo muda a vida das pessoas. Temos que desmistificar que a arte é para os escolhidos, ela é para todos. Arte é fácil de ser feita, todo mundo pode. Basta despertar nas pessoas a possibilidade de fazer. O problema é a preguiça.

Fonte: Jornal O Mossoroense

XXVIII ESCAMBO POPULAR LIVRE DE RUA - UMARIZAL-2010

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